14 setembro, 2011

medo desses hyundai

Começo de noite de uma terça-feira. Depois de mais um dia de trabalho pego minhas coisas e vou para casa. Enquanto caminho em direção a meu carro a normalidade dos eventos é interrompida por uma buzina aguda.

Uma elegante senhora de uns 40 e poucos anos deu ré em seu Hyundai ix35 sem se preocupar muito com o trânsito ao redor - que aliás, costuma ser leve no horário. Só não acertou um Ecosport e um Corsa que passavam na rua em sua manobra imprudente porque o motorista do Ford protestou com de maneira contundente com um longo buzinar.

A motorista do Hyundai gritou "você é louco", mas deixou os dois passarem. Então saiu acelerada, fazendo uma curva de raio excessivamente aberto no sentido em minha direção - no sentido contrário em que iam os carros que ela quase acertou.

Se eu não desse um passinho para trás e voltasse para a calçada, a madame me atropelaria com seu Hyundai. Me pegaria sobre uma faixa de pedestres no que, para ela, seria a contramão da vida. Apenas pensei "ah, Hyndai" antes de vê-la passando por um semáforo verde com uma determinação que me faz ter certeza de que ela não pararia mesmo se ele estivesse vermelho.

Não tenho absolutamente nada contra os carros da Hyundai. Não passam de lata, plástico, tecido e borracha quanto quaisquer outros da rua. Mas longe de condenar publicamente todos que optam por modelos da marca, me confesso abismado com a preferência que um tipo bem determinado de pessoa tem por estes carros coreanos.

Parecem ter a preferência daquele tipo rico que gosta de  ver os outros por cima. Daquele tipo que acha que não precisa exatamente cumprir todas as leis de trânsito, todos os códigos de conduta, todas as regras do bem-viver, todos os códigos de educação, mas que se revolta profundamente se qualquer um lhe falta com os modos. Aquele tipo de gente que não olha serviçais nos olhos e que acredita que de fato existe um tipo inferior de gente. Aquele tipo que acha que dinheiro compra bom gosto.

Enfim, um tipo bem conhecido de gente, que no trânsito vira um perigo à bordo de seus Hyundai num frequência bem mais alta do que nos Ford, VW, Chevrolet, Fiat, Honda, Toyota, Renault, Peugeot e tantas outras que estão por aí. Nem mesmo a Kia, outra coreana que vem chamando a atenção nos últimos tempos por conta de seus altos índices de qualidade, atrai tanto esse tipo de gente. O problema é com a Hyundai mesmo.

Tantas (inúmeras!) fechadas de Tucson, tantos Azera ocupando duas vagas nos shoppings, quantos i30 andando devagar no meio da rua ou rápido demais na faixa da direita. Não pode ser coincidência, não tem como.

Um dos culpados, acredito, pode estar nas propagandas da marca. Mentirosas compulsivas, citam prêmios que não existem e virtudes irreais com um narrador que faz vozes sexuais, que quase tem um orgasmo ao dizer o nome da marca e dos carros. Aquele tipo de gente parece ser bem esquisita.

Não me ofereço a tecer conclusões. Apenas sugiro que tal fenômeno seja estudado com cuidado. Uma marca de carros conseguiu compreender com perfeição a psiquê de uma problemática classe média local, que nos últimos tempos tem se usado o racismo, homofobia, mentiras e terror para se defender de um povo que a olha de maneira cada vez mais desconfiada. Um novo veículo, supostamente luxuoso e sofisticado, para pessoas supostamente educadas e cidadãs. Aí tem.

Um comentário:

Unknown disse...

Muito bom. Mas deixa eu contribuir com minha chatice. No começo do 6º parágrafo diz "ver os outros por cima", e acredito que o certo seria "de cima". Afinal de contas, você não vai querer chamar esse povo de humilde ou altruísta.