06 maio, 2011

correspondência a um amigo

No último sábado conversava com o amigo @danielfilho a respeito do próximo big hit tecnológico que a humanidade deverá e poderá encarar. Segue:


(...)


Conversávamos sábado a respeito do que será a próxima internet, você se lembra. Acabei refletindo um tanto a respeito do assunto e me ocorreu uma coisa que gostaria de compartilhar com vc.


Deve ser de nossa natureza supervalorizar os tempos em que vivemos. Primeiro porque (pelo menos em teoria) o que fazemos é que mantém o mundo funcionando. Depois que dada nossa proximidade com os fatos temos grande dificuldade em relativizar nossos tempos dentro de um contexto histórico. Imagine que no final do século XVIII os britânicos não deviam imaginar que o advento da máquina a vapor daria início à tal da revolução industrial - que seria figura obrigatória dos livros de história depois de 300 anos - ou que a queda do império francês iria mudar a política em todo o mundo. Os exemplos são abundantes por aí.


Agora imagine um personagem qualquer que tenha nascido 100 anos antes que a gente nos EUA, mais precisamente no Texas ou Califórnia, e que tenha vivido 90 anos. Vamos chamá-lo de Willy.


Nascido no começo da década de 1880, Willy nasceu na plenitude do período que conhecemos como o velho oeste. Naquela época o telefone ainda estava em desenvolvimento e o automóvel ainda não havia sido inventado. Não existia distribuição de energia elétrica ou saneamento. O avião só seria inventado em 1906, o plástico só seria "domado" em 1909 e a primeira transmissão comercial de rádio só aconteceria - olha só - em 1920. Até a morte de Willy a humanidade ainda criaria a bomba atômica, criaria os primeiros computadores e chegaria à lua. E então só aí nós nasceríamos.


Talvez daqui a 300 anos a criação da internet seja vista como um passo com a dimensão da revolução industrial ou será jogada nos rodapés dos livros (livros?) de história como uma ressaca dos tempos de nosso Willy. Nunca saberemos disso. Quando vemos exercícios de futurologia dos anos 30, 40 ou 50 temos um mundo de carros que voam, roupas metálicas e viagens espaciais rotineiras já em 2000 - há 10 anos. Sob a ótica de um sujeito que viu dramáticas revoluções técnicas em praticamente todos os campos de sua vida cotidiana num espaço tão curto de tempo, tais hipóteses não são tão absurdas.


Esperar por uma "nova internet" pode ser uma bobagem sem tamanho do ponto de vista histórico. Antes de cada revolução técnica existe um esgotamento técnico/conceitual da tecnologia existente um rompimento de seus valores, uma crise e uma nova criação. Já as criações do "tempo de Willy" ainda parecem estar em franco desenvolvimento. Um smartphone é a fusão de um computador, um rádio e um telefone, a internet é uma fusão de uma série de mídias que nós já conhecíamos. Um automóvel elétrico dispensa o motor a combustão, mas não inova em outros aspectos - é apenas um automóvel. 


Antes de uma eventual crise ainda deverão ver uma série de sinergias técnicas, fusões de funcionalidades e esgotamento de possibilidades - e será aqui onde nós vamos entrar. Acredito que não estamos exatamente numa fase de criação técnica, mas sim em uma fase de rápido refino e aperfeiçoamento. O que surgir depois disso provavelmente não irá pertencer a nós.

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