19 setembro, 2011

uma valiosa lição

Ao contrário do que pode parecer, a decisão do governo federal em aumentar o IPI de veículos importados não afeta necessariamente aqueles que têm R$30 mil, R$40 mil, R$50 mil, R$100 mil ou R$200 mil para gastar em um automóvel. Mas cai como um (silencioso) raio na cabeça daqueles que não têm dinheiro para casa, carro ou comida.

Os que têm tamanha soma guardadas em suas poupanças para gastar em quatro rodas continuarão com esta soma reservada para torrar onde desejarem. Mas este aumento de imposto ilustra de maneira clara as dificuldades daqueles que estão parados à beira do caminho esperando sua vez no bonde da história.

É fato vencido de que os veículos nacionais são especialmente caros. Bem caros. Os fabricantes costumam jogar a culpa sobre essas somas sobre impostos, preço da mão de obra e ao famigerado "custo Brasil": balela, balela, balela.

Sim, os impostos por aqui são altos e talvez a mão de obra seja cara. Mas nada que justifique a diferença de até 300% de um mesmo modelo no Brasil do que nos EUA, por exemplo. É claro que um operário brasileiro ganha mais que um colega chinês, mas é lógico que ganha menos do que seus pares que vivem nos EUA, Inglaterra, Alemanha, Bélgica, França, Coreia e Japão - e ainda assim, modelos destes países até semana passada chegavam por aqui por preços competitivos.

Ainda que não fossem exatamente campeões de vendas ou muito menos exatamente baratos, os veículos chineses tinham uma importante função social desde sua chegada ao Brasil: âncoras de preços. A mais nova geração do Gol chegou às lojas em 2009 à partir de R$ 29.999, e hoje custa um pouco abaixo disso. Já o Fiat Uno viu seus preços caírem quase 10% desde seu lançamento, entre tantos exemplos.

O aumento de imposto que vimos na semana passada revela um dos lados mais covardes do mercado. A mesma livre concorrência que é festejada e estimulada quando os grandes estão ganhando é castrada e pisoteada sem remorsos quando a maré se torna menos favorável. Então vemos uma medida tomada às pressas para proteger um mercado que vem batendo recordes consecutivos de vendas.

Os altos preços dos veículos das grandes marcas instaladas no Brasil são uma bela matata. Sustentam suas matrizes no exterior e permitem que essas mesmas empresas ofereçam seus produtos a 50% do preço cobrado por aqui. Metade das vendas globais da Fiat acontecem por aqui e a GM do Brasil foi a única a operar no azul quando sua mãe norte-americana se jogava à falência.

Desta feita, pagamos a conta dos gringos, enquanto nós mesmo não conseguimos individualmente nos lançar a grandes voos. Este aumento de imposto mostra que as forças que controlam nossas vidas não são necessariamente justas ou estão a nosso favor. Assim vai, e assim será.

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Certamente eu seria muito mais raivoso e virulento caso fosse o outro candidato que estivesse no comando do país. Isso me serviu de lição. Ainda sou simpático ao governo, tenho que me lembrar que definitivamente política é um esporte sangrento e que grandes empresas podem jogar realmente baixo para conseguir o que querem.

Aprendi mais uma.


Um comentário:

Sanchago disse...

Engraçado você falar tudo isso. Eu concordo e te digo que quem compra carro, vai continuar comprando, independente do preço.

Não vejo carro como uma grande necessidade, pelo menos em Americana, que tem MUITO carro, possuído e sustentado por gente que nem tem dinheiro pra mantê-los ou SE manter sem ficar com as calças no banco.

Ontem passou "A Grande Família" com um episódio LINDO do Agostinho comprando um carro caríssimo que ele, obviamente, não tinha dinheiro pra pagar, e depois, ganhando um troco com palestras motivacionais de como subir na vida (que ele não viva). Hilário, cara.

Os anos vão passando e, seja duríssimo ou um pouco mais remediado, nunca sinto falta de carros, exceto por convenções sociais idiotas como rolê na cidade vizinha. Num mundo menos estúpido, pessoas rachariam táxis com mais frequência, andariam de bicicleta dormiriam na casa um do outro sem muitas reservas. Seja em cidade grande ou cidades do interior com o transporte público tão funcional como Americana: Quem realmente NECESSITA de um carro?