13 março, 2013

a temporada de 2013

Existe uma diferença brutal entre o que você acha que pode acontecer e o que você torce para acontecer. O otimista geralmente não faz distinção entre a primeira e a segunda. Já eu, com minha natureza pouco disposta a contar com os ovos antes da galinha e prefiro deixar o emocional distante do racional.

Assim, portanto, elaboro duas listas sobre a temporada de 2013 da F1. Uma com os resultados que eu acho e outra com os resultados que eu gostaria que acontecessem. A eles.

Classificação que eu torço para acontecer na F1 2013
1º Jenson Button
2º Sebastian Vettel
3º Fernando Alonso
4º Kimi Raikkonen
5º Lewis Hamilton

Notas: as poucas mudanças de regulamento entre 2012 e 2013 me fazem acreditar que a despeito do que indicam os testes de pré-temporada, no "mundo real" os carros vão andar mais ou menos na mesma ordem que estavam no fim do ano passado - quando a McLaren tinha o melhor carro do grid.

Apesar de ter alternado momentos apagados com geniais em 2012, Button encerrou a última temporada com uma bela vitória em Interlagos - feito que ficou em segundo plano por conta do caos que foi a prova em São Paulo. Como única estrela da McLaren, tem de tudo para ter um grande ano.

Já não pretendo torcer para Vettel por uma razão muito simples: ele já venceu demais nos últimos anos. Claro, posso mudar de casaca rapidinho se o carro de Alonso começar a andar mais do que prevejo - eu torço abertamente contra o espanhol.

Resultados que eu acho que vão acontecer em 2013
1º Sebastian Vettel
2º Fernando Alonso
3º Jenson Button
4º Felipe Massa
5º Mark Webber

Sim, o carro da Ferrari não era uma beleza no começo da temporada de 2012, mas também era menos pior do que dizia o teatral Fernando Alonso. Mas o carro da Red Bull também não era dos mais confiáveis. Cada um na sua. Em condições normais, nada indica que teremos uma temporada de grandes surpresas entre os dois ponteiros.

Mas não que seja uma temporada chata. Não duvido que no fim do ano a diferença entre os três primeiros - Vettel, Alonso e Button, no caso desta lista - seja muito maior do que 15 pontos.

Na verdade carros melhores e/ou mais confiáveis na Ferrari e na Red Bull irão beneficiar sobretudo seus colegas de equipe, fazendo com que Massa e Webber tenham desempenho mais digno, jogando Raikkonen para fora do Top5. E, juro, espero ter errado feio nessa.

12 fevereiro, 2013

sobre o papa

As regras básicas do xadrez são relativamente simples: os peões andam casa a casa, sempre a frente. As torres, em linhas retas. Os bispos, em diagonais. Os cavalos, em L. A rainha faz qualquer movimento. O rei, bem, o rei é um idiota. Mas essas regras relativamente simples não fazem do xadrez um jogo simples.

A igreja também tem suas regras. Regras em enorme quantidade e bem mais complexas que as de um jogo de tabuleiros. E elas estão lá há um bocado de tempo, o suficiente para os que se interessem no assunto possam assimilá-las.

Se você resolver mudar as regras do xadrez o jogo pode ficar mais simples, mas deixará de ser xadrez. Se você mudar as regras da igreja católica ela talvez fique mais interessante ao grande público. Mas deixará de ser a igreja católica.

Simplesmente não se renova uma igreja usando como justificativa o fato das outras crianças estarem fazendo o mesmo. A Igreja tem dogmas e pessoas morreram por causa deles. Hoje falar que a Terra é redonda parece uma obviedade, mas teve gente que passou por maus bocados por manter essa opinião no passado.

É dever do fiel aceitar os dogmas, os radicalismos e os anacronismos da igreja sem questionamentos. É absurda e idiota a ideia de que a igreja deve se adaptar aos novos tempos só porque o mundo mudou e agora as coisas são vistas de maneira diferente. Não. Simplesmente não. Porque a igreja é a igreja. Uma organização feita em um outro tempo para pessoas com a cabeça em outro tempo. Não é a igreja quem deve se adaptar a fé das pessoas. É o fiel quem tem a obrigação de se adaptar à igreja.

Mas por que ela de adapta? Por que ela precisa de renovação?

Porque lufadas de ar fresco atrasam o inevitável declínio. Desviam as atenções, relaxam as tensões. A igreja e a fé cega simplesmente não têm qualquer chance contra qualquer reflexão feita contra qualquer uma de suas premissas básicas. Não há deus que resista à racionalidade, o pensamento científico e a desmitificação do universo. Não há anjos no céu. Há aviões, e, acima deles, satélites de telecomunicação.

Milhares de igrejas devidamente renovadas já apareceram por aí. Todas com proposta parecida, todas caça-níqueis para pessoas que precisam desesperadamente usar sua fé em vida como moeda de troca para uma eternidade de delícias no pós-morte. E todas experimentando graus diferentes de sucesso. Mas nenhuma delas é a igreja católica, porque nenhuma delas pode ser a igreja católica.

Quando o papa renuncia ao cargo, talvez diga a verdade ao alegar fadiga. Mas também nos lembra que a igreja é um estado e que seu cargo é político. Que depende de fieis, que fazem deste estado mais ou menos influente de acordo com as circunstâncias.  E que tudo, afinal, são negócios, showbusiness da espiritualidade.

Aos que não concordam, muito simples: apenas deixem tudo isso para trás. A igreja é irrelevante no mundo real, e a não-crença nisso tudo tem como principal benefício colocar sob nossa responsabilidade tudo de bom ou ruim que acontece conosco. Sem deus, sem intermediários. Sem papa, sem patacoadas.

O maior medo da igreja não é o comportamento libertário. Mas o livre pensamento.

09 janeiro, 2013

gp do brasil

foda

sagan

Me lembrei de um ponto especialmente divertido de uma velha leitura

"De vez em quando, recebo uma carta de alguém que está em "contato" com extraterrestres. Sou convidado a "lhes fazer qualquer pergunta". E assim, com o passar dos anos, acabei preparando uma pequena lista de questões. Os extraterrestres são muito adiantados, lembrem-se. Por isso faço perguntas como: "Por favor, dê uma prova breve do último teorema de Fermat". Ou a conjetura de Goldbach. E depois tenho de explicar do que se trata, porque os extraterrestres não devem conhecer esses problemas por esses nomes. Assim, escrevo a equação simples com os expoentes. Nunca recebo resposta. Por outro lado, se pergunto coisas como "Deveríamos ser bons?", quase sempre obtenho uma resposta."

Carl Sagan, em "O mundo assombrado pelos demônios"

18 novembro, 2012

gp dos eua

Até o momento da largada esperava-se uma vitória fácil de Vettel como sequência lógica do confortável domínio do alemão na sessão classificatória e treinos livres. Desde a largada seguido de perto por Hamilton, o piloto da Red Bull não resistiu à pressão do inglês na volta 42, quando cedeu a liderança e seguiram assim até a bandeirada, com Alonso fechando o pódio.

A prova emocionante que se esperava para o instigante Circuito das Américas não aconteceu. A Pirelli enviou compostos resistentes demais para o GP, fazendo com que a corrida tivesse uma dinâmica parecida com a que existia antes de sua entrada na F1, quando apenas uma entrada nos boxes era a coisa mais normal do mundo.

Depois da largada, não aconteceram muitas ultrapassagens, nem qualquer tipo de acidente ou incidente digno de nota. Nenhuma asinha quebrada, nenhum pneu furado em toque, nada. Nada. Mas o carro de Mark Webber saiu da prova por causa de problemas no alternador quando o piloto estava mais do que confortável na terceira colocação, coisa realmente assustadora para a escuderia austríaca nessas alturas do campeonato.

O caso mais interessante da prova aconteceu fora da pista. No sábado, Felipe Massa se classificou na frente de Fernando Alonso na tabela de classificação e a Ferrari deliberadamente violou o lacre a caixa de câmbio do brasileiro para forçar uma punição de 5 colocações no grid e assim "otimizar a posição de largada" do espanhol. Não é teoria da conspiração, eles usaram exatamente esse argumento no release enviado à imprensa.

Se fosse um personagem literário, a Ferrari seria o antagonista que conquistou glórias no passado e hoje não se furta em fazer qualquer coisa, por mais moralmente condenável que seja, em benefício próprio. Um personagem inconcebível e insustentável, se não fosse real.

E, infelizmente, sustentado por um séquito de fãs que têm suas motivações mais alimentadas pelo marketing da escuderia do que por sua história ou feitos dentro da pista. Afinal, como um "mito" pode despertar admiração sendo amoral, desonesto e antidesportivo? Se mesmas posturas fossem adotadas por qualquer outra equipe, ela seria a inimiga número 1 da audiência.

(…) Agora, qualquer que seja o rótulo que se dê ao fã, verdade é que ele não gosta de ser enganado. Então, quando uma equipe como a Ferrari manipula resultados e expõe ao ridículo alguns de seus pilotos, ela tão somente está contribuindo para destruir toda aquela aura de 'mundo mágico' que a F1 levou anos para construir. O mais louco é que, com isso, a categoria permite a afronta de seu principal consumidor."

Nota-se que, por serem tão eloquentes e bem escritas essas palavras não são minhas. Mas sim do jornalista Américo Teixeira Jr para a edição número 31 da revista Warmup, editada antes da realização da prova em Austin. Chamada "Uma F1 a caminho do precipício", basicamente fala como a categoria se estrangula e constrói as bases para seu próprio fim.