13 julho, 2010

gp da inglaterra

Em sua participação no programa Top Gear, da BBC, Rubens Barrichello afirmou ao apresentador Jeremy Clarkson que quando assinou seu contrato com a Ferrari em nenhum ponto de seu contrato havia uma cláusula que determinava que ele deveria ser o segundo piloto da escuderia italiana, ainda que o cara do carro ao lado fosse Michael Schumacher. "Eu falei que não daria passagem, houve uma discussão envolvendo os advogados da equipe no motorhome da equipe, mas acabei cedendo", disse, se referindo ao traumático episódio do GP da Áustria de 2002.

Curiosamente a afirmação, gravada na quarta-feira anterior ao GP da Inglaterra, foi ao ar horas depois do australiano Mark Webber ter sido o primeiro homem a cruzar a linha de chegada do renovado circuito de Silverstone e ter comemorado o feito dizendo que a conquista "não foi nada mal para um segundo piloto". Explica-se: a Red Bull levou apenas duas unidades de um novo modelo de asa dianteira para a prova, teoricamente uma para cada um de seus pilotos. Vettel quebrou sua unidade durante um treino livre e o bico do carro de Webber foi "emprestado" para o carro do alemãozinho, fazendo com que o australiano ficasse parte do final de semana com um modelo antigo de spoiler dianteiro. Ainda que o time austríaco negue de pés juntos que exista qualquer tipo de preferência entre seus pilotos, algumas verdades são tão óbvias que não precisam exatamente serem ditas para serem entendidas.

No final das contas, cada um dos pilotos da Red Bull voltou para casa com um troféu. Vettel, um bico novo. E Webber, uma bela taça dourada, e talvez um pouco de pólvora no bolso, que deverá estremecer um tanto o clima descolado da equipe principal da marca de refrigerantes mais modernete do mundo.

A experiência mostra que, não apenas na F1, o talento pode ser um facilitador, mas que ele por si só não garante sucesso, glórias e alegrias a ninguém. Atrás das câmeras existem articulações, pauzinhos que, mexidos, podem transformar homens em ratos e ratos em homens conforme o ritmo das marés. E é aí que entra Webber. Estreante brilhante e esquecido por anos, pela primeira vez em seus oito anos de Fórmula 1 tem os holofotes voltados para si, ofuscando até mesmo seu prodígio companheiro de equipe que sempre teve todas as atenções.

Uma vez em evidência, parece determinado em não dar o braço a torcer, ainda que às custas de fazer um ou dois inimigos. E tem a razão, já que pilotos vitoriosos geralmente colecionam algumas inimizades em seus caminhos. Até o momento Webber tem mostrado ter a capacidade de liderar e vencer provas consecutivas, qualidade que ainda falta em Vettel, que Barrichello nunca teve - por mais habilidoso que sempre tenha sido - e que faltou a Hamilton na temporada de 2008.

O histórico da temporada e os tempos de melhor volta consecutivamente baixados na última corrida mostram que o australiano é rápido, constante e erra pouco, apesar de provavelmente se confessar culpado das acusações de que seu estilo estar longe de ser dos mais empolgantes na pista. Nada mal para um segundo piloto, no campeonato está à frente de seu companheiro de equipe e atrás apenas do também técnico e pouco agressivo Jenson Button e do líder Lewis Hamilton, que costuma pilotar com uma faca entre os dentes.

Ainda que cada um dos quatro primeiros colocados do campeonato sejam diferentes e tenham lá seus defeitos, é no mínimo uma pena que uma disputa tão interessante seja comprometida mais uma vez por uma decisão de bastidores. A vida não é justa e é uma inocência presumir que a competição deveria ser, mas talvez correndo contra seus adversários e até mesmo contra o próprio time, Webber tenha a chance de provar de uma vez por todas de que podem tirar qualquer coisa de um homem, menos sua vontade de tentar.

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