12 fevereiro, 2013

sobre o papa

As regras básicas do xadrez são relativamente simples: os peões andam casa a casa, sempre a frente. As torres, em linhas retas. Os bispos, em diagonais. Os cavalos, em L. A rainha faz qualquer movimento. O rei, bem, o rei é um idiota. Mas essas regras relativamente simples não fazem do xadrez um jogo simples.

A igreja também tem suas regras. Regras em enorme quantidade e bem mais complexas que as de um jogo de tabuleiros. E elas estão lá há um bocado de tempo, o suficiente para os que se interessem no assunto possam assimilá-las.

Se você resolver mudar as regras do xadrez o jogo pode ficar mais simples, mas deixará de ser xadrez. Se você mudar as regras da igreja católica ela talvez fique mais interessante ao grande público. Mas deixará de ser a igreja católica.

Simplesmente não se renova uma igreja usando como justificativa o fato das outras crianças estarem fazendo o mesmo. A Igreja tem dogmas e pessoas morreram por causa deles. Hoje falar que a Terra é redonda parece uma obviedade, mas teve gente que passou por maus bocados por manter essa opinião no passado.

É dever do fiel aceitar os dogmas, os radicalismos e os anacronismos da igreja sem questionamentos. É absurda e idiota a ideia de que a igreja deve se adaptar aos novos tempos só porque o mundo mudou e agora as coisas são vistas de maneira diferente. Não. Simplesmente não. Porque a igreja é a igreja. Uma organização feita em um outro tempo para pessoas com a cabeça em outro tempo. Não é a igreja quem deve se adaptar a fé das pessoas. É o fiel quem tem a obrigação de se adaptar à igreja.

Mas por que ela de adapta? Por que ela precisa de renovação?

Porque lufadas de ar fresco atrasam o inevitável declínio. Desviam as atenções, relaxam as tensões. A igreja e a fé cega simplesmente não têm qualquer chance contra qualquer reflexão feita contra qualquer uma de suas premissas básicas. Não há deus que resista à racionalidade, o pensamento científico e a desmitificação do universo. Não há anjos no céu. Há aviões, e, acima deles, satélites de telecomunicação.

Milhares de igrejas devidamente renovadas já apareceram por aí. Todas com proposta parecida, todas caça-níqueis para pessoas que precisam desesperadamente usar sua fé em vida como moeda de troca para uma eternidade de delícias no pós-morte. E todas experimentando graus diferentes de sucesso. Mas nenhuma delas é a igreja católica, porque nenhuma delas pode ser a igreja católica.

Quando o papa renuncia ao cargo, talvez diga a verdade ao alegar fadiga. Mas também nos lembra que a igreja é um estado e que seu cargo é político. Que depende de fieis, que fazem deste estado mais ou menos influente de acordo com as circunstâncias.  E que tudo, afinal, são negócios, showbusiness da espiritualidade.

Aos que não concordam, muito simples: apenas deixem tudo isso para trás. A igreja é irrelevante no mundo real, e a não-crença nisso tudo tem como principal benefício colocar sob nossa responsabilidade tudo de bom ou ruim que acontece conosco. Sem deus, sem intermediários. Sem papa, sem patacoadas.

O maior medo da igreja não é o comportamento libertário. Mas o livre pensamento.

Um comentário:

G.G. disse...

Bom texto.

talvez a pergunta tenha que ser um pouco diferente: "porque a igreja precisa se adaptar?" - quem se adapta somos nozes!

se quer acompanhar o pensamento do mundo ta na hora de se desfazer das cranças..

O problema é que as pessaos se adaptam - ao seu jeito - mas continuam se nomeando catolicas (nao praticante, como se existisse isso).


saudades de ver seu blog! (tirando a parte de corrida)