29 setembro, 2010

felipe massa, um homem tolo

Então bicampeão no mundo, Niki Lauda tinha realmente muito pouco o que provar naquele GP da Alemanha de 1976 quando, num rodopio, bateu seu Ferrari num guard rail e ela explodiu em chamas. Retirado moribundo do bólido vitimado por uma série de queimaduras, foi levado ao hospital e receberia a extrema-unção naqueles mesmo dia se não tivesse expulsado o clérigo de seu quarto, gritando que “precisava de médicos, não de padres”.

E de fato, não era sua hora de bater as botas. Menos de três meses depois lá estava ele, alinhando seu bólido para o GP da Itália, para surpresa e ceticismo de muitos. Mas além das profundas cicatrizes que carrega no rosto e nas mãos até hoje, Lauda não era mais o mesmo em aspectos menos visíveis. Continuava, sim, visceralmente rápido e técnico como sempre, mas relatos da época dão conta que depois de seu encontro com a morte ele adquiriu novos hábitos e se tornou mais introspectivo. De acordo com sua esposa, desde então Nikki passava horas e mais horas observando seu jardim, se emocionava com pores do sol e que andava pela casa assoviando Bach.

Era sim, um homem diferente, que meses depois abandonaria a última prova do ano e suas chances do título ao encostar seu Ferrari logo depois da largada do GP do Japão, disputado em Fuji. Indagado por jornalistas sobre o motivo de seu abandono, Lauda se justificou com uma única palavra: “medo”.

Talvez o grande erro de Felipe Massa seja insistir que seja continua sendo o mesmo depois de seu grade acidente na sessão classificatória para o GP da Hungria de 2009. Apenas um verdadeiro tolo encara a morte de frente e volta de lá dizendo que não aprendeu qualquer lição.

Suas tentativas de mostrar que ainda é o velho sujeito de outros tempos apenas reforçam as diferenças, hoje gritantes. Continua rápido, mas menos agressivo que antes; não faz mais ultrapassagens, não arrisca. Batalhas como a que teve com Robert Kubica no GP do Japão de 2007 agora fazem parte do passado, chegando a vexames como passar provas inteiras colado atrás de sujeitos como Hulkenberg ou Alguessuari sem esboçar qualquer reação.

Felipe deveria ser humano, reconhecer que algo está diferente. As plásticas que eliminaram as marcas do acidente dão a impressão de que nada aconteceu, mas não se pode passar uma borracha num episódio como aquele. Desmontar a muralha que fez em torno de si, deixar de fazer de conta que está tudo bem e passar tardes observando jardins, se emocionando com pores do sol e, quiçá, assoviando Bach. E assim, talvez, se tornar um homem mais sábio.

2 comentários:

Dalton Campos disse...

Belo texto mesmo. Eu, plagiando a Regina Duarte, preciso dizer, eu tenho medo. Não do Lula, mas de muita coisa e isso paralisa mesmo.

Sergio Endrigo disse...

O Emerson disse no "Pit Stop" de ontem que se for pra sentir medo, na hora da prova, melhor não correr. Mais uma vez o Rato foi sábio nas palavras.